“Enganam-se aqueles que – baseados em suas leis e em seus códigos – julgam ser capazes de nos tornar prisioneiros. Nós sempre seremos livres, porque aquilo que nos rege não pode ser comprado, aquilo que nos rege vai além dos muros das suas prisões.” (Autor Desconhecido) (A)
[Texto de Moa Henry – ativista anarquista, presa política da Copa do Mundo Fifa 2014, na clandestinidade há dois meses – de algum lugar em 23 de Janeiro de 2015]
No dia 12 de julho de 2014 o estado brasileiro mostrou mais uma vez o seu caráter fascista e 23 ativistas foram “caçados” pela DRCI (Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática) / “Novo DOPS”, na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo era prender esses ativistas na tentativa de evitar que os protestos marcados para o dia da final da copa acontecessem. A tal lista, com fotos, endereços e telefones era o resultado de uma investigação que corria em sigilo, e que havia sido realizada pela Polícia Civil/DRCI/Novo DOPS. O inquérito que foi aberto ainda no auge das jornadas de junho tinha como foco criminalizar o movimento, que encheu as ruas de várias cidades do Brasil nos meses que se seguiram ao levante popular de 2013.
O objetivo principal do grande espetáculo armado pelo estado, pela mídia burguesa corporativa, e pelos agentes fascistas das forças de segurança pública, estava claro: o povo deveria abandonar as ruas, calar os gritos de junho, não questionar a soberania do poder militar/petista/burguês. Era como se estivessem dizendo: “Vocês devem continuar obedecendo, calados, as nossas leis. Voltem pra frente das suas TVs, e continuem a obedecer, a produzir e consumir em silêncio todo o lixo que nós fabricamos pra vocês. Vamos prender esses 23, e esperamos que assim ninguém mais nos cause problemas. Caso esqueçam, nós continuaremos aqui vigiando e punindo aqueles que se rebelarem contra nós.”
Mas os planos da repressão fracassaram. E o que se pode ver em pleno 2015 é o começo de uma nova jornada.
Assim, fica óbvio o real motivo não só das 23 prisões da final da Copa do Mundo da Fifa, como também dos três últimos mandados de prisão (para Elisa, Igor e eu, expedidos no último dia 03 de dezembro). Não querem nos prender porque estivemos, segundo as investigações policiais, a uma manifestação ou a um evento cultural (o que já é suficientemente absurdo). O real motivo de todas as prisões que vem acontecendo desde as jornadas de junho é a nossa postura política publicamente declarada em relação ao governo, ou para ser mais clara, ao estado como um todo, as suas “forças” militares, ao sistema capitalista, a máfia da qual fazem parte, hoje, políticos, donos de empreiteiras, bancários, grandes empresários (responsáveis pela produção de energia e petróleo) e os corruptos sanguessugas do transporte público (motivadores, em grande parte, das manifestações que acontecem anualmente no país).
O real motivo pelo qual Caio Silva, Fábio Raposo, Igor Mendes e Rafael Braga estão presos é o medo do estado frente a nossa capacidade de resistência, aos nossos ideais de liberdade. Medo que todos aqueles que envelhecem nas filas superlotadas dos pontos de ônibus, que adoecem pelo excessivo trabalho (onde, em muitos casos, as jornadas diárias duram até dez horas), que aqueles que uma vez doentes, imploram por atendimento nos corredores dos hospitais públicos, se levantem, se rebelem, devolvendo toda a violência que sofrem há anos e enfim tomem as ruas, e destruam prefeituras, câmaras, assembleias legislativas e parlamentos.
Toda essa repressão e perseguição é resultado de uma política desesperada que percebeu que o seu absolutismo (fascista) e o seu sistema (capitalista) estão vulneráveis à nossa rebeldia e à revolta de uma sociedade cansada e doente.
O único objetivo do estado, do imperialismo mercantil, do capitalismo: é manter as suas margens de lucro, seu medíocre e falso crescimento, assegurar a riqueza de uma minoria burguesa, garantir o aumento das suas taxas de produção, crescimento e consumo. O que eles nos oferecem em troca?! Uma escravidão consentida onde somos medidos por aquilo que possuímos, onde somos consumidos por aquilo que consumimos; nos deixam ainda meia dúzia de falsas esperanças e o direito de permanecermos calados.
Mas fico feliz em dizer a todos aqueles que seguem lutando (e aos que estão se deparando pela primeira vez com uma nova possibilidade de resistência político-social), que nós vencemos a primeira batalha das muitas que ainda virão. A REPRESSÃO FRACASSOU. As jornadas de junho não acabaram, mas apenas mudaram de nome e transformaram-se nas jornadas de 2015.
Nós não vamos recuar e não vamos nos calar, seja em Bangú ou vivendo vidas clandestinas. Continuaremos a levantar os nossos punhos cerrados contra o fascismo, a exploração humana e ambiental, o genocídio urbano, campesino e indígena, contra toda forma de opressão, contra juízes ditadores, forças militares e governos! Continuaremos tomando as ruas, exigindo a nossa liberdade, renegando as suas leis e ditaduras. E tudo aquilo que vocês, vermes fascistas, nos tomaram, nós pegaremos de volta! Não importa quantas prisões ainda sejam feitas, quantos de nós vamos morrer, quantos quilômetros vamos ter que caminhar no campo e na cidade. NÓS PASSAREMOS! VOCÊS NÃO PASSARÃO!
P.S. Quero dedicar esse texto aos 43 estudantes desaparecidos em Ayotzinapa (México), assim como a todos os outros que vem sofrendo perseguições, assassinatos, e ameaças na Escuela Normal Rural Raúl Isidro Burgos (localizada no estado mexicano de Guerrero), a qual também pertenciam os 43.
La lucha sigue!
PELA LIBERDADE DE CAIO SILVA FÁBIO RAPOSO, IGOR MENDES E RAFAEL BRAGA!
EM SOLIDARIEDADE AOS 43 ESTUDANTES MEXICANOS DESAPARECIDOS!
PELO FIM DA PERSEGUIÇÃO AOS POVOS NATIVOS E CAMPESINOS!
PELO FIM DO GENOCÍDIO NAS FAVELAS!
MORTE AO ESTADO E AO CAPITAL!!!
A los 43 estudiantes de Ayotzinapa y para todos los que luchan por la libertad
A Las Vozes de Ayotzinapa
La Noche Sigue!
Las Vozes de La Resistencia Siguen!
Acá, hay una ventana
Acá, hay una estrada
Acá, hay un camino…
Y por ese camino
– Rebelde y Solitario (muchas vezes) –
Seguimos cambiando
Com rabia, amor y fuerza
Lo hacemos as vezes con tropiezos
Otras vezes con algunos errrores
Pero siempre con una gran certeza:
El camino que estamos construyendo
Es el camino de la Libertad
Moa Henry (23 de janeiro de 2015)
Stand Stronger … Respeito Maximo !!!