#Nota da redação: Nesta publicação de estreia, estamos divulgando em primeira mão a carta da anarquista “MOA HENRY”, atualmente vivendo na clandestinidade por ser perseguida política da justiça fascista do Estado brasileiro. Essa carta foi escrita no dia 26/12/2014 porém só agora vem a ser publicada devido ao lapso de tempo que chegou até nosso email. Moa teve que largar seu trabalho, seus amigos e toda sua vida para escapar da prisão.#
AQUI NÃO EXISTE NATAL
Enquanto o mundo festeja o “capitalismo fraternal natalino” com seus pinheiros (à moda americana) cheios de presentes, ao lado de mesas fartas, nós vivemos num mundo onde o que vemos e experimentamos é uma realidade não tão farta, e nem um pouco pacífica e fraternal.
Há dois dias, enquanto centenas de famílias burguesas brindavam o “amor” e a “fraternidade” cristãs, um jovem chamado Rafael Braga era torturado numa solitária num dos centros carcerários da “Cidade Maravilhosa”. Enquanto a elite fascista trocava seus presentes, Caio e Fábio – dois ativistas que foram as ruas em 2013 lutar por uma realidade melhor, por saúde, educação, moradia, transporte de qualidade e um custo de vida mais baixo, não só para eles mas para toda população, nada comemoravam e nada brindavam, simplesmente porque estavam numa cela em outra prisão da “cidade maravilhosa”.
Continuando a lista posso citar o ativista Igor Mendes, preso no último dia 03 de dezembro quando estava saindo de casa. Igor Mendes também foi às ruas denunciar o fascismo do Estado gerenciado pela máfia partidária (PT, PSDB, PMDB) oportunistas, seus aparatos de repressão, a violência policial usada contra os movimentos populares e nas áreas mais carentes da cidade, etc. Ele também passou a noite do dia 25 num complexo penitenciário.
Acusadas, assim como Igor Mendes de termos cometido um ato de desobediência civil, a ativista Elisa Quadros e eu tivemos novos mandados de prisão expedidos. Diferente de Igor Mendes nós tivemos a oportunidade de fugir. Nós duas continuamos vivendo na clandestinidade desde o dia 03 de dezembro.
Estou contando tudo isso não por ter a intenção de colocar a mim e todos os outros como vítimas, ou como se lamentássemos por não poder trocar presentes, ou comemorar em casa com a família o “amor”, “fraternidade”, “paz” e a “fartura”. Quero deixar claro aqui que nós não comemoramos, por exemplo a “paz” e a “fartura” porque simplesmente não houve “paz” e “fartura” para ser comemorada. Para nós – assim como para centenas de milhares de presos, moradores de rua, para todos que foram violentamente removidos, caçados e assassinados no campo, nas comunidade indígenas e nas favelas, para aqueles que são explorados diariamente dentro e fora da cidade, para todos nós não houve natal assim como não houve Copa, assim como não haverá Olimpíada.
As nossas mesas não foram fartas e em muitos casos não havia nem mesmo uma mesa (como nos presídios e nas calçadas, onde muitos sobrevivem).
Em alguns lugares um pouco mais distantes, como em inóspitas comunidades africanas e etíopes mesmo a água e o pão foram artigos de luxo nesta noite de fartura.
Em diversos lugares do mundo, nos subúrbios e favelas, famílias inteiras se reuniram sem ter o que colocar sobre a mesa, e sem ter o que comemorar.
E assim passamos aquilo que a burguesia, os capitalistas e os cristãos chamam de natal. Alguns presos, outros com fome, outros tantos vivendo na clandestinidade. Ainda houveram muitos que, nessa noite, estiveram relembrando a morte ou desaparecimento de suas Cláudias, Amarildos, dos seus companheiros de militância. Por tudo isso eu afirmo com convicção que nessa realidade de luta e resistência não existe natal!
EM SOLIDARIEDADE AOS 43 ESTUDANTES MEXICANOS!
PELA LIBERDADE DE FÁBIO, CAIO, IGOR MENDES E RAFAEL!
PELA LIBERDADE DE TODOS OS PRESOS POLÍTICOS!
PELA EXTINÇÃO DE TODOS OS PROCESSOS!
PELO FIM DO GENOCÍDIO NO CAMPO, NA FAVELA E NAS COMUNIDADES INDÍGENAS!
MORTE AO FASCISMO E AO CAPITAL!
NÃO PASSARÃO!!!
Moa Henry – 26/12/14
Força, guerreira! “O povo unido é o povo forte”.